Projeto literário transforma em livro vivência de 'mães atípicas' de estudantes
São consideradas mães atípicas mulheres que têm um estilo de maternidade único, que difere das expectativas socioculturais
No Dia Mundial de Conscientização do Autismo, celebrado na última terça-feira (2), as mães atípicas de estudantes com Transtorno do Espectro Autista (TEA) e outras deficiências atendidos pela Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Dom Pedro II, no bairro do Marco, em Belém, transformaram suas vivências em livro, por meio do projeto "Estrelas Literárias", desenvolvido na escola.
Para dar início ao projeto, a comunidade escolar realizou um encontro com as mães atípicas para compartilhar histórias e definir como vai ser a produção dos livros. Por meio da iniciativa, realizada em parceria com o projeto Estante Mágica, as mães de estudantes da Escola Dom Pedro II foram as primeiras da América Latina a participar do projeto.
"O projeto é de suma importância para ajudar outras famílias atípicas. Eu também sou uma mãe atípica, e o primeiro passo é você aceitar a condição. Não é doença, é uma condição. E ter esse apoio é muito importante. No primeiro momento você pensa: 'eu sou única no mundo, só eu sofro, só meu filho é assim'. E esse trabalho vem mostrar que nós não somos únicas, nós temos um monte de gente, e essa troca de experiência é que vai nos fortalecer. Então esse trabalho vai servir de exemplo para as outras mães tomarem conhecimento e se apropriar da condição: 'eu sou mamãe atípica e tudo bem', afirmou Cristiane Caetano, professora responsável pela iniciativa e pelo espaço de leitura da escola.
A professora ainda explicou como o projeto vai funcionar. "As mães vão produzir os textos no ambiente da casa delas, com as experiências de vida com a chegada do filho PcD, no caso, e quinzenalmente a gente vai fazer um encontro, onde nós vamos trabalhar esses textos, a gente vai auxiliar nisso. Após, a gente vai pegar esse material e começar a alimentar a plataforma, que é a Estante Mágica, até a finalização completa do trabalho", finalizou.
Para Eliene Coelho, mãe da estudante Maria Eduarda, que tem paralisia cerebral e está no 7° ano do Ensino Fundamental, poder escrever sobre o convívio com a filha é algo bom. "Nunca na minha vida eu imaginei que iria escrever um livro e essa é uma notícia maravilhosa. Foi uma emoção ser convidada para esse projeto, eu pensei: 'nossa, eu, escritora?'. Eu fiquei bastante surpresa e ao mesmo tempo grata por poder ajudar outras pessoas também. A gente é força para os nossos filhos. A expectativa é enorme, enorme mesmo porque compartilhar essas histórias é uma responsabilidade muito grande", contou a autônoma.
A engenheira civil Shyrlena Garcia é mãe do Fernando, que tem dislexia e cursa a 1° série do Ensino Médio na escola. Ela acredita que o projeto vai ajudar no desenvolvimento do filho. "Nós somos novos aqui na escola e o projeto foi uma surpresa. Não pensei que poderia escrever um livro e isso com certeza vai ajudar muito porque o Fernando tem dislexia, então ele tem dificuldade com leitura e escrita, e o sonho dele é ser escritor, e o projeto é realmente perfeito para a gente nesse momento em que ele está aprendendo a ler", disse.
"A escola abraçou a nossa família com carinho e o projeto veio para trazer mais uma forma de incentivar o crescimento, a leitura, a aprendizagem dele. A gente, que é mãe atípica, sempre costuma pensar mais no filho, então tem horas que você quer contar a história do filho, mas ao mesmo tempo está entrelaçado com a história da mãe, então não tem como ser só um ou outro, está tudo interligado, é uma única história. E aí vem os sentimentos, vem muita coisa, mas esse livro vai ser escrito com muito amor e carinho", completou Shyrlena.
Depois de prontos, os livros serão ilustrados, com a ajuda de estudantes da escola, e serão lançados em uma cerimônia. A previsão é de que o lançamento aconteça em novembro deste ano.
Protagonismo dos estudantes - Em 2022, estudantes da Escola Dom Pedro II produziram livros de contos com narrativas e ilustrações próprias. A iniciativa deu tão certo, que os estudantes puderam apresentar suas obras ao público em uma exposição na 26ª Feira Pan-Amazônica do Livro e das Multivozes, em 2023. Através do projeto, os estudantes se tornaram protagonistas da produção literária, incentivando-os a serem grandes leitores e escritores, capazes de produzirem suas próprias narrativas e experiências de vida.